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Apesar da abundância, recursos hídricos exigem gestão

Reportagem Especial | Reportagem de Capa | 01.05.2009




Ao longo de toda a história humana, a água sempre esteve presente no desenvolvimento de civilizações: milênios atrás, por exemplo, quando o rio Nilo, com suas cheias, foi considerado uma dádiva do Egito, e até na história do Brasil, desbravado pelos bandeirantes, que seguiam os traçados dos afluentes para o interior. Sem água, existe fome, falta saneamento e a indústria tem dificuldades para se desenvolver. O setor de celulose e papel, que conhece muito bem a importância desse recurso, é um dos que têm a água como insumo indispensável, utilizando-a desde a criação de mudas de eucalipto até o processo industrial.

Tendo consciência dessa relevância, o setor tem trabalhado firme nos últimos anos para reduzir suas taxas de consumo, tanto nas novas fábricas atualmente em construção quanto nas unidades com mais de 20 anos, que precisam se adaptar aos atuais níveis de utilização de água – agora bem menores mesmo em países com abundantes recursos hídricos, como o Brasil. Um caso que ganhou notoriedade nacional foi o da da fabricante de celulose branqueada Lwarcel, que conquistou o 3º Prêmio Fiesp de Conservação e Reúso da Água 2008. Instalada na cidade de Lençois Paulista (SP), a fábrica, distante de qualquer outra fonte de água, até hoje depende de captação de lençois subterrâneos e poços semiartesanais. “A dificuldade se transformou em conceito, a ponto de hoje a empresa apresentar um dos menores consumos específicos de água do setor no Brasil e, provavelmente, um dos menores do mundo”, afirma Pedro Stefanini, gerente industrial da Lwarcel Celulose.

Os números da empresa mostram essa evolução: a companhia passou de um consumo específico de 44 m³/tsa em 2004 para 23 m³/tsa em 2007, após implantar sete projetos em seu processo de fabricação. “No enfoque tecnológico, a Lwarcel buscou alternativas elencando as melhores práticas disponíveis no mundo. Um exemplo foi o investimento na linha de fibras, que substituiu a tecnologia de filtros lavadores por lavadores tipo DD Washing, da Andritz”, explica Stefanini. Esses equipamentos operam em média consistência e favorecem a redução do consumo de água. A empresa também contou com seu time interno para repensar processos e reduzir o consumo de água. “Todos os demais projetos do programa de reúso, responsável por 46% do total da redução obtida, foram iniciativas da equipe de técnicos da empresa.”

Já na International Paper de Mogi Guaçu (SP), os desafios de consumo foram se apresentando ao longo do tempo. Quando a fábrica foi construída, em 1960, à beira da bacia do Mogi Guaçu, o rio tinha muito mais vazão e havia uma folga considerável para a utilização do recurso. Com o desenvolvimento da região, o aumento da densidade populacional e a maior necessidade de água para irrigar fazendas, a empresa notou que o nível do afluente passou a ficar muito baixo em certas épocas. “Desde então, sentimos a necessidade de reduzir nossa dependência do recurso”, aponta Wanderlei Perón, especialista ambiental da IP.

De acordo com ele, a empresa trabalhou bastante nesse ponto a partir de 2000, e agora passa por uma fase de monitoramento e controle, pois a maior parte do que poderia ser feito para reduzir a utilização da água já foi realizado. “O que ajudou muito foi o fechamento de circuitos, como o uso de condensado nos processos. Também substituímos lavadores que operavam a vácuo por outros que trabalham por prensagem, otimizando o uso da água”, diz Perón. A planta da IP, com isso, passou de um consumo diário da ordem de 85 mil metros cúbicos por dia para os atuais 55 mil, ao mesmo tempo em que a produção diária se elevou de 950 para 1.200 toneladas.

Na Cenibra, que fica em Belo Oriente (MG), os técnicos da empresa também notaram, com o passar dos anos, uma redução significativa da vazão no rio que margeia a empresa, instalada no local desde 1975. “Começamos a investir na redução do consumo não só para garantir o abastecimento da fábrica, mas também porque a Cenibra conscientizou-se da necessidade de fazer algo para reduzir seu consumo e respeitar o meio ambiente no futuro”, diz Alexandre Etrusco Lanna, gerente do Departamento de Fabricação da empresa. Ele conta que os desafios são ainda maiores, porque a primeira linha de produção tem uma defasagem de 20 anos em relação à segunda e o consumo médio de água aceitável era muito maior no passado. “Sabemos que temos uma linha que consome muito mais que outra; por isso, temos investido principalmente na linha 1, na qual o consumo passou de 150 m³ por tsa em 1978 para um nível atual de 45 m³ por tsa”, conta.

Na visão da Suzano, a prática do reúso na indústria de papel e celulose, além de aumentar a disponibilidade dos recursos hídricos para outras atividades e até mesmo para o consumo residencial, reduz os custos de produção, evita perdas de produto final ou intermediário e minimiza a carga de poluentes a serem tratados. “Por conta disso, durante a fase de implantação do Projeto Mucuri, na Bahia, já havia a proposta de quase triplicar o volume de produção de celulose da fábrica sem a necessidade de ampliar a outorga para captação de água do rio Mucuri, o que implicaria novos processos de licenciamento”, conta Ricardo Quadros, gerente executivo de Qualidade e Meio Ambiente da Suzano.

Segundo o executivo, no entanto, não adianta apenas investir na adequação e redução do consumo se não houver uma política rígida que garanta a perenidade dos resultados alcançados e, até mesmo, sua melhoria, sempre que possível. “Assim, a Suzano criou, no painel de controle da fábrica, uma tela que avalia constantemente o consumo de água em cada etapa do processo, elevando esse controle aos mesmos patamares de produção, qualidade e segurança.”

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