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A Convenção de Estocolmo e a indústria de C&P /Parte II

Artigos Técnicos | Artigo Técnico | 01.05.2009




Autores: Ewelin M.P.N. Canizares
            Cláudia Alcaraz Zini

A Indústria de celulose e papel
Entre os doze sujos, alguns compostos podem ser relacionados com a indústria de celulose e papel, tais como as dioxinas, furanos e PCBs. A área de pesquisa relacionada com a análise química e efeitos biológicos destas e de outras substâncias que possuem ação biológica marcante, tem sido um campo fértil por longo tempo. A avaliação do risco associado a PCDD/PCDFs baseia-se no conceito de Fatores de Equivalência de Toxicidade (Toxic Equivalency Factor, TEFs ou FETs). Os TEFs fundamentam-se em valores de toxicidade aguda obtidos em estudos in vivo e in vitro, e estão firmados em evidências que indicam que estes compostos possuem mecanismos de ação mediados pelo mesmo receptor celular. Entretanto, a abordagem utilizada no conceito de TEF possui suas limitações, devido a um certo número de aproximações nela empregados. O TEF foi desenvolvido para ser uma ferramenta administrativa que permite a conversão de certa concentração determinada analiticamente para cada congênere de PCDD/PCDF em um único valor de Equivalente Tóxico Total (Toxic Equivalent, TEQ ou EQT). Contudo, deve-se trazer em mente que os TEFs baseiam-se no atual estado do conhecimento, e que são passíveis de constante revisão, na medida em que novos dados se tornam disponíveis (Birnbaum e de Vito 1995; Chemicals 2005; Berg, Birnbaum et al. 2006).

A principal explicação para que as dioxinas apresentem tantos efeitos negativos é que elas são capazes de se ligar de forma muito eficiente a um receptor específico, uma proteína presente no citoplasma conhecida como receptor Ah (AhR ou RAh). A ligação da dioxina a este receptor desencadeia uma série de reações, resultando na ligação do mesmo a uma dada seqüência de DNA. Um dos possíveis locais de ligação é uma região de regulação para o gene CYP 1A1, que possui o genótipo para uma das enzimas do tipo citocromo P450. A ingestão de certa dose baixa de dioxinas teria uma ação direta, particularmente no fígado, induzindo maciçamente (aumentando a produção ou a secreção) a atividade desta enzima. Entretanto, o AhR pode se ligar a muitas seqüências diferentes ao longo da fita de DNA, e desta forma influenciar a síntese de outras 20 proteínas, no mínimo. Diversos compostos já estudados possuem estruturas similares às das dioxinas, tais como os PCBs, mas, em geral, eles não se ligam com tanta força ao receptor AhR quanto o faz a 2,3,7,8-TCDD. Sendo assim, para que efeito similar ao da 2,3,7,8-TCDD ocorra necessita-se de uma dose bastante superior desses compostos (Yamauchi, Kimb et al. 2006).

Os critérios usados para incluir um dado composto na abordagem que envolve os TEFs, e conseqüentemente adicioná-lo à lista de compostos similares às dioxinas (dioxinlike compounds, DLC ou CSD), são: a) compartilhar certas semelhanças estruturais com os PCDD/PCDFs; b) ligar-se ao receptor AhR; c) demonstrar respostas tóxicas e bioquímicas mediadas pelo receptor AhR; e d) demonstrar persistência e acumulação na cadeia alimentar.

Um dos ensaios utilizados como indicador da ingestão de um poluente desse tipo em peixes é o teste da etoxiresorufina desetilase (Etóxiresorufin-O-Deetilase, EROD), que é um indicador altamente sensível à presença de poluentes e fornece evidências da ocorrência de indução das mono oxigenases dependentes do citocromo P-450 (especificamente da sub-família da CYP1A) por compostos químicos xenobióticos. Diversos experimentos de laboratório, bem como estudos de campo simulados e in situ, investigaram a indução do tipo EROD em mais de 150 espécies de peixe (Whyte, Jung et al. 2000). O texto a seguir contempla um breve histórico das indústrias de celulose e papel no que diz respeito aos POPs e às demandas da Convenção de Estocolmo, assim como também relata os progressos observados na relação deste setor da indústria com o meio ambiente. (Hewitt, Parrott et al. 2006; McMaster et al. 2006; Parrott, McMaster et al. 2006).

Referências

Ewelin M.P.N. Canizares, Cláudia Alcaraz Zini
A Convenção de Estocolmo e a indústria de celulose e papel – Parte II
The Stockholm Convention and the pulp and paper industry – Part II
O PAPEL vol. 70, num. 05, pp. 43-55 MAY 2009
State Foundation for the Environment Protection (FEPAM) - Email: ewelinmpc@gmail.com
Chemical Institute, Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS) - Email: cazini@iq.ufrgs.br

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