Voltar   

Oportunidades para o Brasil

Artigos Assinados | Coluna Bracelpa | 01.06.2009




O clima de otimismo sobre a capacidade de a indústria se ajustar, no longo prazo, marcou o quarto CEOs Roundtable Meeting, encontro promovido pelo International Council of Forest and Paper Associations (ICFPA) no dia 28 de maio em Londres. Representando 12 países, inclusive o Brasil, 20 presidentes de indústrias de base florestal avaliaram a crise econômica mundial e as perspectivas do setor de celulose e papel para os próximos 15 anos.

Ficou claro que um dos efeitos da crise será a mudança geopolítica no fluxo da produção, do emprego e do capital do setor de celulose e papel. Esse novo cenário deverá favorecer o Brasil, principalmente por causa da produtividade das florestas plantadas de pínus e eucalipto e pelo fato de o País ser referência mundial em manejo florestal. Fechamento de fábricas no hemisfério Norte – muitas delas obsoletas – e busca por matéria-prima de melhor qualidade, entre outros motivos, poderão ser favoráveis às indústrias instaladas no Brasil.

Os CEOs também avaliaram a concessão de benefícios pelos governos de alguns países para enfrentar o atual momento econômico. Muitas vezes de caráter protecionista, esses subsídios, segundo eles, podem agravar o comércio internacional, ao causar profundas distorções na concorrência e inibir o investimento necessário à recuperação da economia.

Os presidentes debateram, ainda, a necessidade de se buscar inovação nos modelos de negócios do setor, demonstrando confiança quanto à adaptação da indústria aos novos tempos, sobretudo quando a população mundial questiona modelos globais de negócios diante do contexto econômico e ambiental. Como o consumidor está optando por produtos ambientalmente corretos, que atendam às suas necessidades sem desperdiçar os recursos naturais, terão sucesso apenas as indústrias que respeitarem os ciclos da natureza.

Nesse sentido, as empresas de todo o mundo deverão se esforçar para obter certificações florestais, que comprovam a transparência das atividades e o compromisso do setor com a sustentabilidade, dando segurança ao consumidor final para utilizar produtos da indústria de celulose e papel. Como afirmou Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano e representante do Brasil na reunião, “mais uma vez o Brasil se fortalece nesse cenário, pois as certificações abrangem a maioria das empresas instaladas no País. Essa é mais uma vantagem brasileira em relação à concorrência”

Mudanças climáticas – Durante o encontro também foi elaborado o posicionamento mundial do setor de base florestal em relação à Conferência das Partes (COP-15) das Nações Unidas, em Copenhague (Dinamarca), evento durante o qual se fará a revisão do Protocolo de Kyoto, em dezembro. O ICFPA defenderá que a nova versão do documento reconheça em suas disposições os benefícios de todos os tipos de florestas, incluindo as plantadas – já existentes ou novas, resultantes de medidas de florestamento e de reflorestamento.

Além de mostrar a eficácia das florestas na mitigação das mudanças do clima, principalmente pelo sequestro de carbono, o posicionamento do ICFPA destaca que as indústrias de base florestal fornecem material de construção favorável ao clima, como fibras de celulose e combustível renovável, além de outros benefícios econômicos, ambientais e sociais, como biodiversidade, conservação do solo e redução da pobreza.

Nesse contexto, as partes precisam incorporar a gestão sustentável das florestas no cerne da Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação (REDD) e simplificar o reconhecimento de projetos de Mecanismo de Desenvolvime,nto Limpo (MDL). O documento destaca ainda a importância de as florestas plantadas serem realocadas em áreas não florestadas (incluindo a compensação ambiental), assegurando, ao mesmo tempo, a integridade ambiental.

Em resumo, o setor defenderá, na reunião de Copenhague, que a indústria de produtos florestais pode oferecer respostas para muitas das questões ambientais que a humanidade enfrenta atualmente. Nesse sentido, é preciso difundir que a produção sustentável das empresas de base florestal contribui para a prosperidade em áreas rurais e que atividades econômicas baseadas na gestão sustentável das florestas reduzem o desmatamento e a degradação florestal. Além disso, processos industriais baseados no ciclo natural do carbono ajudam a diminuir as emissões de gases do efeito de estufa, enquanto o uso de materiais renováveis, recicláveis e que retornam à natureza pode satisfazer as necessidades da sociedade sem sobrecarregar a natureza. Até a reunião, há muito trabalho a ser feito para fortalecer essas mensagens, e os representantes do setor, em todos os níveis da indústria, precisam estar envolvidos no debate e na divulgação desses temas. A Bracelpa concentrará esforços para que o governo e a sociedade brasileira apoiem e defendam essas mensagens na revisão do Protocolo de Kyoto.

Elizabeth de Carvalhaes
Presidente Executiva da Bracelpa