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Sustentabilidade é o caminho, não o fim

Reportagem Especial | Reportagem de Capa | 01.06.2009




A utilização dos recursos da Terra já é maior do que sua capacidade de reposição. Segundo relatório da consultoria Americana Global Footprint Network, em 2005 a ação humana já excedia em 31% o limite sustentável do planeta. As taxas de uso de solo e dos recursos naturais, bem como a poluição, só continuaram a elevar-se desde então, ocasionando previsões de que, até 2030, se o atual ritmo de crescimento de população e consumo se mantiver, será necessário o equivalente a dois planetas para sustentar a raça humana.

Diante desse cenário dramático, a necessidade de mudança tem feito que muitas empresas busquem modelos de produção baseados na sustentabilidade, ou seja, que contemplem uma visão mais ampla dos impactos do negócio no meio ambiente e na sociedade, permanecendo, ao mesmo tempo, financeiramente saudáveis.

No setor de celulose e papel, que tem atividade intrinsecamente ligada aos recursos naturais e desempenha um importante papel social no País, a preocupação com o tripé sociedade–economia–meio ambiente é evidente, com constantes investimentos para mantê-lo em equilíbrio. Segundo relatório da Bracelpa, em 2007 o setor investiu US$ 585 milhões nas áreas de educação, saúde e meio ambiente. Os projetos de fomento florestal, que permitem distribuição de renda para pequenos produtores e servem como grande exemplo da ligação entre os elos social, financeiro e ambiental dentro do segmento, somaram 16.400 propriedades em 344 mil hectares.

Investir no desenvolvimento sustentável, no entanto, não é tarefa fácil, e o desafio vai muito além de colocar projetos ambientais e sociais em prática. Para a consultora Jodie Thorpe, da organização inglesa Sustainability, o conceito de sustentabilidade é visto de várias formas dentro das mais variadas empresas, gerando divergências de trabalhos. “Para nós, a sustentabilidade se relaciona com dois conceitos fundamentais: primeiro, é necessário gerir seu negócio de forma a manter a existência dele, o que envolve a continuidade da sociedade, da economia e do meio ambiente; segundo, as empresas precisam ser capazes de dar respostas transparentes sobre seus impactos de produção”.

De acordo com a especialista, muitas empresas já se autodenominam sustentáveis em suas propagandas, o que é um grave erro: “As companhias que realmente entendem o conceito e tentam fazer a coisa certa dizem ‘estamos mudando’, ‘estamos tentando’ e mostram um plano de metas para que outros decidam se ela está tomando o caminho certo”.

É essa a visão da Votorantim Celulose e Papel, empresa vencedora do prêmio Destaques do Setor 2008 da revista O Papel na categoria Responsabilidade Social. “Eu diria que a empresa está no caminho da sustentabilidade, mas ainda não chegamos lá, já que os conceitos precisam estar totalmente incorporados na rotina da empresa, algo que leva tempo, pois as pessoas precisam ser envolvidas, treinadas e sensibilizadas”, diz Umberto Cinque, gerente-geral de Sustentabilidade da VCP.

A Irani Celulose é a única empresa do setor que figurou entre as Top 10 do ranking Leading Reports, divulgado no final de 2008 pela Sustainability e pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS). O estudo, que analisou 300 empresas, teve por objetivo mostrar quais empresas disponibilizavam informações mais transparentes sobre sua atuação. “Nosso relatório segue uma metodologia muita rígida, que nos permite acompanhar de perto nossos índices”, diz Odivan Cargnin, diretor administrativo-financeiro e de Relações com Investidores da Irani Celulose.

Cargnin também enxerga que não existe empresa sustentável, mas sim “empresa comprometida com sustentabilidade”. Ele comenta: “Existem indicadores em que você pode recuar e terá de trabalhar para corrigir. Por isso, ter um mapa de todas as ações é importante, para manter o foco do trabalho”.

Não são todas as empresas, porém, que conseguem atingir esse nível de maturidade. “No Brasil, a cada ano são investidos R$ 3 bilhões na área de Responsabilidade Social, mas isso não tem sido o suficiente para melhorar nossos indicadores sociais e ambientais”, afirma Giovanni Barontini, sócio da Fábrica Éthica Brasil e membro do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC/SP.

Apesar dos conceitos muitas vezes ainda não bem definidos, Jodie, da Sustainability, acredita que a sociedade não pode se arriscar a apenas criticar empresas de forma injusta, porque ainda não fazem tudo direito. “Sustentabilidade é uma jornada sem fim, e as empresas não são perfeitas, mas estão decididas a fazer mudanças sérias e devem ser encorajadas a isso”, afirma.

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