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O papel das florestas plantadas na almejada bioeconomia

ABTCP 2017 | ABTCP 2017 - Sessão Temática Florestal | 27.10.2017




Sessão Temática Florestal
Palestrantes ressaltam o papel das florestas plantadas na almejada bioeconomia e apresentam tendências para melhor aproveitamento desse potencial 

As tendências que marcarão o manejo futuro das florestas plantadas e nativas pautaram as palestras e discussões da Sessão Temática Florestal, promovida no segundo dia do ABTCP 2017 – 50º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel. Cristiano Cardoso Stetz, analista de Sensoriamento Florestal da Klabin, abriu as apresentações falando sobre o uso de imagens de satélite aplicado ao monitoramento dos ativos florestais. "Devido à extensão e distribuição dos ativos florestais, cada vez mais distantes das unidades industriais, criou-se a necessidade de monitorar a floresta remotamente, já que a operação terrestre torna-se muito dispendiosa em tempo e recursos”, esclareceu aos presentes. Com o monitoramento, é possível identificar a qualidade da floresta. "São identificadas anomalias relacionadas às características edafoclimáticas e de fitossanidades que afetam diretamente a produtividade da floresta e consequentemente o abastecimento das unidades industriais. O monitoramento também proporciona uma análise histórica das operações florestais, subsidiando os gestores e planejadores na tomada de decisão, principalmente no que diz respeito a áreas ociosas, como uma espécie de 'Google Earth Florestal’, comentou Stetz.
Guerric le Maire, pesquisador do CIRAD (La Recherche Agronomique pour le Développement) também discorreu sobre o monitoramento atual das florestas e das perspectivas futuras. Avaliando o cenário atual, le Maire apresentou os equipamentos disponíveis para a realização de sensoriamento remoto, incluindo drones e satélites. Dando enfoque a esses últimos, o pesquisador informou que mais de 500 satélites já foram distribuídos pela Terra, com diferentes propósitos — dentre eles, a realização de pesquisas governamentais e privadas. O pesquisador detalhou ainda as formas como os satélites podem ser úteis e devem se fortalecer no monitoramento de florestas.
Rafaela Lorenzato Carneiro, coordenadora executiva do Programa Cooperativo sobre Tolerância de Eucalyptus Clonais aos Estresses Hídricos, Térmicos e Bióticos (TECHS) do Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais (IPEF), apresentou os efeitos dos estresses hídricos e térmicos na produtividade do eucalipto no Brasil. "Atualmente, os plantios clonais são uma regra na eucaliptocultura. O entendimento dos efeitos das variações de regime hídrico e térmico intra e inter-anual sobre a produtividade, impõe uma maior compreensão da sensibilidade destes clones aos estresses”, explicou sobre a iniciativa do trabalho desenvolvido. Implementada em 2012, a rede experimental passou por uma das maiores crises hídricas da história, com grandes variações climáticas anuais, o que , segundo Rafaela, ajudará a compreender o efeito desses fatores nos plantios florestais e auxiliará nas devidas tomadas de decisão em relação a escolha do material genético, locais aptos aos plantios e manejo florestal a ser aplicado. "Todo esse conhecimento será essencial para manter e elevar os padrões de produtividade nas áreas tradicionais e garantir sucesso em áreas de fronteira”, salientou. 
Já os efeito dos fatores edafoclimáticos na produtividade do pinus taeda no sul do Brasil, que faz parte de uma rede experimental do Programa Cooperativo sobre Produtividade Potencial do Pinus no Brasil (PPPIB) do IPEF, foram detalhados pela pesquisadora Isabel Deliberali, coordenadora do programa. "Considerando que o pinus é a segunda espécie mais plantada no Brasil, somando aproximadamente 1,6 milhão de hectares, compreender os fatores (climáticos, edáficos e de manejo) que controlam seu crescimento é de fundamental importância para que o setor aumente de maneira sustentável sua produtividade e minimize custos”, comentou.
Disposto a incitar reflexões a respeito dos efeitos das alterações climáticas sobre as florestas, Marco Aurélio Figura, pesquisador florestal da Klabin, ressaltou que a ação do clima sobre a nossa vida é muito grande. "Mesmo que moremos em cidades, sentimos seus efeitos e tendemos a perceber com mais nitidez quando são negativos (enchentes, ondas de calor, entre outros). Imagine nos domínios das ciências agrárias, onde agricultura, pecuária e floresta dependem diretamente do clima de maneira expressiva para gerar os produtos básicos de consumo de nossa sociedade.” Segundo ele, a importância de abordar este assunto existe porque somos parte integrante de um mesmo sistema dinâmico, todo interligado. "Qualquer impacto em um segmento afeta os demais. Já sentimos alguns efeitos não só de alterações climáticas, mas de tendências. Não se trata de discutir um assunto porque está na moda, mas porque é vital conhecermos que isso existe, que acontece ou pode acontecer. É essencial que as pessoas, especialmente as formadoras de opinião, formem um senso crítico sobre o tema embasado em fatos e dados, não em achismos ou opiniões”, salientou. 
Luiz Carlos Estraviz Rodriguez, professor do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/USP, abordou as rotinas de medição e monitoramento dos ativos florestais mantidos pelas empresas atualmente. "O que nos mantém como um dos países mais competitivos do mundo em termos de produção de fibras de celulose é a nossa capacidade de monitorar e aumentar a produtividade desses ativos. O monitoramento preciso dos processos de produção nos leva a ganhos e, consequentemente, a aumentos de competitividade. Modernizar as rotinas de medição e de monitoramento trazem ganhos de precisão, de redução de custos e de melhoria ergonômica e de segurança”, listou. "Além de benefícios que, apesar de menos tangíveis do ponto de vista econômico, são de extrema importância estratégica, pois evitam passivos ambientais e sociais para acionistas e investidores”, adicionou.
O status atual das certificações e a forma como elas pautarão os modelos das florestas  do futuro foram os temas abordados por Estevão Braga, gerente de Sustentabilidade da Suzano Papel e Celulose. As florestas irão se fortalecer como a principal fornecedora de bens e serviços de uma sociedade que busca conciliar desenvolvimento econômico com bem-estar social e conservação ambiental”, destacou ele. Neste contexto, as certificações atuam como ferramenta para chegar a essa meta, a partir do adequado manejo florestal. Melhor rastreabilidade, maior poder de comunicação com o consumidor, maior transparência, maior engajamento das ONGs e sociedade e mecanismos de resolução de conflitos são alguns exemplos das mudanças promovidas pelas certificações. 

Nota: Para mais detalhes sobre os temas debatidos nas Sessões Técnicas e Temáticas do ABTCP 2017 – 50º Congresso Internacional de Celulose e Papel, confira a edição especial da O Papel de novembro, com toda a cobertura do evento.

Caroline Martin
Especial para Revista O Papel