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A nova cara do setor florestal brasileiro

Entrevistas | Entrevista | 01.09.2009




Assim como a sociedade, que passou por grandes transformações nas últimas décadas, o setor florestal mudou. Novos conceitos, como a tão falada “sustentabilidade”, foram incorporados, modificando até mesmo a estrutura dos negócios. “Não podemos ser inocentes e achar que o setor produtivo não está atento às coisas que estão acontecendo no mundo. É claro que está. Primeiro, porque quer ser responsável, quer ser reconhecido como tal, e, principalmente, porque depende desta sustentabilidade para sustentar também o seu negócio”, afirma Armando Storni Santiago, que foi nomeado recentemente presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef) e é diretor florestal da International Paper.
De acordo com o executivo, até mesmo a pesquisa no setor passou por mudanças nos últimos dez anos para atender a estas novas demandas, passando a englobar modelos que levam em consideração muito mais variáveis, como disponibilidade de água, mudança de temperatura, fixação de carbono e outras. “Estas variáveis estão definitivamente incorporadas na mentalidade dos pesquisadores”, pontua.
Nesta entrevista, Santiago aborda também os principais desafios das florestas públicas e plantadas no Brasil, os investimentos estrangeiros no País, a produção de biomassa e o papel do Ipef na silvicultura brasileira, entre outros assuntos.
 
O Papel Na sua opinião, o que falta para um completo desenvolvimento do setor florestal brasileiro?
Armando Storni Santiago – Em primeiro lugar, é importante dividirmos o setor florestal em dois segmentos: o que reúne as florestas públicas, nativas, e o de florestas plantadas. Sobre o primeiro, falta uma política pública séria e mais eficaz para manejo e administração das florestas públicas brasileiras, além de investimentos públicos, principalmente nas áreas de governo responsáveis pela fiscalização. Também falta um projeto de longo prazo, que não seja imediatista ou mude a cada quatro ou oito anos. É um absurdo o que aconteceu com o Brasil nos últimos 500 anos em relação à Mata Atlântica. Hoje temos de 5% a 7% de área remanascente dos 100% da floresta amazônica. Isso é quase inconcebível. É notável também o descaso para com outra área que não é muito falada: o Cerrado brasileiro.

O Papel – E em relação às florestas plantadas? A situação é diferente?
Santiago – Sim, acho que a questão da floresta em si está bem administrada pelo setor privado. Obviamente ainda existem algumas travas do ponto de vista ambiental, de licenciamento, mas o que falta de verdade para viabilizar um setor de florestas plantadas mais eficiente é o desenvolvimento da cadeia como um todo. A floresta tem de virar celulose, produto sólido de madeira, produto químico, resina, extrativos..., e os investimentos necessários para este outro lado da cadeia ainda são muito penalizados. Enfim, falta um melhor tratamento dos investimentos de capital, com desoneração, bem como descomplicação do sistema de licenciamento das florestas plantadas e, finalmente, infraestrutura adequada para que esses produtos sejam escoados, movimentados.

O Papel – A denominação “floresta plantada” é clara para a sociedade como um todo ou ainda é vista como vilã?
Santiago – A floresta é algo que está no âmago da gente, no extinto do ser humano, e que naturalmente se pensa em preservar. Acho que esse termo cabe para as florestas como a Amazônica, a Mata Atlântica, o bioma Cerrado, por exemplo, que têm uma função de preservação, de conservação. O que nós chamamos de florestas plantadas teria de ser chamado, na minha opinião, de unidade de produção de fibra. Quando eu planto uma área de eucalipto ou de qualquer outra espécie, na verdade aquilo é uma área de produção de fibra, assim como eu planto uma área para produzir arroz, cana, milho, algodão... Acontece que, se eu coloco a palavra floresta, fica muito complicado para as pessoas entenderem quando se corta esta floresta.

O Papel – A pesquisa e o desenvolvimento tiveram um papel marcante no setor florestal brasileiro, elevando-o a uma posição de destaque mundial nas últimas décadas. Ainda hoje existem grandes desenvolvimentos nesta área ou há certa estagnação?
Santiago – Se você olhar hoje a curva de ganho de produtividade, verá que é muito acentuada, mostrando uma tendência de ganhos ainda muito grande. Não se sabe até quando; é claro que existe um limitador, mas isso ainda vai acontecer, tranquilamente, nos próximos 15 ou 20 anos. O que mudou na pesquisa recentemente, nos últimos dez anos, foi a incorporação, obviamente em função de o mundo estar mudando também, de um conceito muito pesado de sustentabilidade. Acredito que daqui por diante vão prevalecer os famosos modelos que chamamos, na área de floresta plantada, de “modelos ecofisiológicos”, que levam em consideração muito mais variáveis, incluindo questões como disponibilidade de água, mudança de temperatura, fixação de carbono e assim por diante. Estas variáveis são os novos componentes do setor de pesquisa e estão definitivamente incorporadas na mentalidade dos pesquisadores.

O Papel – Quais são os impactos dessas demandas ambientais na atividade industrial?
Santiago – Não podemos ser inocentes e achar que o setor produtivo não está atento às coisas que estão acontecendo no mundo. É claro que está. Primeiro, porque quer ser responsável, quer ser reconhecido como tal, e, principalmente, porque depende desta sustentabilidade para sustentar também o seu negócio. Se uma empresa de base florestal, por exemplo, trabalha de uma maneira que daqui a algum tempo vá esgotar a possibilidade de produção do seu solo ou da sua terra, irá exaurir as condições de produção, ou seja, estará automaticamente se autodestruindo.

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