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O POTENCIAL DO CARBONO E O SETOR DE ÁRVORES CULTIVADAS

Artigos Assinados | | 02.08.2022




Os pedidos de socorro do planeta têm sido cada vez
mais frequentes e estridentes. Hoje, já sentimos na
pele os efeitos da relação desrespeitosa que o ser
humano estabeleceu com a natureza. Furacões,
aumento do nível do mar, secas, ondas de calor extremo são
alguns dos sinais que o planeta está enviando e que, especialmente
os mais vulneráveis, precisam batalhar para enfrentar.
De acordo com artigo dos professores da Universidade de
São Paulo (USP), Julio Romano e Edmilson Moutinho, publicado
no jornal Valor Econômico, a concentração atual de CO2
na atmosfera é de 400 partes por milhão, acima das 280 partes
por milhão anterior à revolução industrial. Não podemos mais
seguir a mesma rota que nos trouxe até aqui.
Mesmo neste período de multilateralismo em crise, não há
outra saída para contermos o aquecimento global e mitigarmos
os impactos da mudança do clima se não estabelecermos
uma verdadeira concertação global.
A rota da descarbonização, se encarada de maneira organizada
e planejada, pode transformar este enorme desafio em
uma oportunidade de mesma magnitude, por meio da monetização
de ativos ambientais.
O mercado de carbono é exemplo de ferramenta que tem
tudo para impulsionar os cuidados com a natureza. Segundo
a empresa de investimentos MSCI Inc., o valor de créditos de
carbono global negociados em mercados regulados no ano de
2021 foi de aproximadamente 760 bilhões de euros, um aumento
de 164% em relação a 2020.
Tais números, que podem ser considerados ainda tímidos
perto do tamanho que este nicho de negócio verde pode atingir,
só reforçam que o Brasil não podia mais ficar alheio a esta
realidade. A edição do Decreto 11.075/22 deu um primeiro
passo na criação do mercado regulado nacional de créditos de
carbono, é bem verdade. Para maior segurança jurídica, caberá
ainda a aprovação de lei que, além de estruturar um sistema
nacional, o deixe preparado para ser conectado com o mundo.
Essa jornada não pode ser encarada como responsabilidade
de apenas um ator social. Poder público, iniciativa
privada e sociedade civil têm o dever de contribuir com
discussões e ações.
Ciente de sua responsabilidade, o setor de árvores cultivadas
vem evoluindo há décadas, caminhando sobre os trilhos
da bioeconomia, demonstrando ser possível produzir e
conservar, sem falso dilema, gerando benefícios ambientais,
sociais e econômicos.
Além dos 9,5 milhões de hectares destinados a fins produtivos,
comumente cultivados em terras antes degradadas, são
conservados outros 6 milhões de hectares, uma área maior
que o Rio de Janeiro. Juntas, estas áreas têm potencial de estoque
de 4,5 bilhões de toneladas de CO2 eq. Não há nada igual
na iniciativa privada no Brasil.
Estudo recentemente divulgado pela Embrapa Florestas,
chamado “Índice de alteração do carbono no solo, em conversões
de uso do solo envolvendo plantações florestais no
Brasil”, revela que a contribuição pode ser ainda maior. A
conversão de solos de baixa produtividade, como pastagens,
em plantios florestais, pode gerar, até mesmo, ganhos de estoque
de carbono na terra.
A referida pesquisa, aliada ao planejamento de crescimento
do setor, abre horizonte de avanço sustentável não somente
para a indústria de base florestal, mas para o país.
Até 2028 estão planejados investimentos de R$ 58,8 bilhões
em P&D, florestas e novas unidades fabris. São aportes que vão
expandir a capacidade produtiva, a fim de atender à crescente
demanda da sociedade por bioprodutos florestais. Junto a isso,
o Brasil tem cerca de 88 milhões de terras em algum estado de
degradação, segundo a Universidade Federal de Goiás (UFG).
Ou seja, há espaço para avançar de modo organizado e contribuindo
com o meio ambiente.
Os novos usos da madeira e das fibras vegetais serão essenciais
para esse amanhã mais verde. A celulose solúvel já é matéria-
prima alternativa às de fonte fóssil, na fabricação de tecidos.
A celulose microfibrilada será responsável pela produção de fios
têxteis com a utilização de menos água e menos químicos, em
até 90%. A nanocelulose também possibilitará a substituição
de camadas de plástico e alumínio em caixas de leite ou de suco,
tornando-as ainda mais recicláveis e biodegradáveis.
Além disso, a indústria de base florestal, que é vetor de sequestro
e estoque de carbono, tem tudo para aproveitar esta
chance que se abre com o mercado regulado nacional de carbono.
A IBÁ tem um calendário e um grupo de trabalho já
engajado na análise de projeções das curvas de emissões de
GEE do setor, ciente do prazo de 180 dias definido no Decreto.
Fato é que todas as crises trazem aprendizados e criam novas
oportunidades. A humanidade tem em suas mãos a chance
de corrigir o caminho que vinha traçando, passando a cuidar
melhor da natureza e batalhando para deixar um planeta habitável
para as futuras gerações. A retomada econômica verde
possui potencial de gerar emprego e renda, podendo ser um
agente, inclusive, para mitigar as desigualdades sociais que assolam
o mundo. Nosso amanhã será escrito a partir de nossas
atitudes no presente, como se estivéssemos, por assim dizer,
anuncio_papirus_21x14cm.pdf 1 18/07/2022 09:05:49 ensaiando o futuro. Precisamos agir.