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CELULOSE SOLÚVEL, SINÔNIMO DE INOVAÇÃO

Artigos Assinados | Artigo | 26.05.2023




CELULOSE SOLÚVEL, SINÔNIMO DE 
INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Por EMBAIXADOR JOSÉ CARLOS DA FONSECA JR
Diretor executivo da IBÁ, com assento no Comitê Diretor do 
The Forests Dialogue (TFD), no Advisory Committee on 
Sustainable Forest-based Industries (ACSFI), da FAO, e 
Cofacilitador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.

O mundo em que vivemos está apoiado em 
pilares que ameaçam ceder frente à emergência 
climática sem precedentes. Este cenário é fruto 
da exploração desenfreada de recursos fósseis e 
de uma economia global altamente dependente da emissão 
de gases de efeito estufa. Hoje, o mesmo mundo clama por 
soluções criativas e inovadoras como parte de uma nova 
economia verde do futuro.
Nessa tarefa de dar as mãos à natureza na busca de construir um amanhã melhor, a indústria de base florestal, reconhecidamente sustentável em seu processo de elaboração, 
também começa a despontar para a sociedade como uma
parceira no fornecimento de produtos ambientalmente 
amigáveis para o dia a dia.
Em viagens pelo mundo, como Conferências das Partes 
(COPs), Congressos Florestais, missões governamentais, 
reuniões, palestras e debates, é perceptível que, com o passar 
dos anos, o setor de árvores cultivadas tem se estabelecido 
como um benchmark no quesito cuidado ambiental no campo e na indústria.
O manejo responsável dos 9,9 milhões de hectares de 
áreas plantadas, aliado à conservação de mais 6,05 milhões 
de hectares, uma área maior que o estado do Rio de Janeiro, 
assim como todos os serviços que tais áreas prestam ao meio
ambiente são um dos pilares que sustentam esta visão. O 
cuidado também no processo fabril que privilegia o uso de 
fontes renováveis na geração de energia e o menor uso de 
água para fabricação do mesmo produto são diferenciais 
que chamam a atenção.
Toda essa matéria dá origem a produtos que são biodegradáveis, recicláveis e alternativas a materiais de origem fóssil. 
Para além dos atributos ambientais, a tecnologia empregada 
e valor agregado ainda mais alto que os bioprodutos do setor 
carregam, graças a investimentos em ciência e tecnologia, 
começam a ganhar ainda mais luz aos olhos do mundo.
Um fantástico exemplo é a celulose solúvel, que extrapola 
os limites do setor e possibilita a substituição de matéria-
-prima de origem fóssil em uma série de segmentos industriais como têxtil, alimentício, beleza, higiene, entre outros.
Exemplo diário é a salsicha, que é cozida em um molde de 
viscose. Isso quer dizer que a pele da salsicha, assim como de 
outros alimentos industrializados, como o salame, contém a 
matéria-prima. Ainda na seara da alimentação, produtos dieté-
ticos levam celulose solúvel, pois ela substitui a gordura animal 
e dá a mesma cremosidade. Um exemplo é o milk-shake diet.
Mais uma aplicação em um item que está em nossas 
mãos no dia a dia é a pasta de dente. A textura firme que 
conhecemos deve-se à celulose solúvel. Não fosse assim, seria um líquido. Também é interessante lembrar que as cápsulas de remédios recebem a matéria-prima renovável. Ela 
permite, inclusive, que os laboratórios desenvolvam medicamentos que serão liberados após o tempo necessário de 
ingestão ou no local correto do organismo. Até mesmo em 
uma viagem de avião temos contato com fibras vindas da 
madeira cultivada, que é utilizada como reforço de pneus 
de alta performance, pois é mais resistente a altas temperaturas do que matérias-primas de origem fóssil.
Outra aplicação que merece amplo destaque é na indústria 
da moda. Trata-se de uma substância imensamente versátil 
e seus usos ainda são alvo de pesquisa e desenvolvimento. 
Hoje a celulose solúvel é muito utilizada como filamento de 
viscose, revestindo tecidos delicados, como gravatas, roupas 
íntimas, vestidos e até tecido jeans, para não mencionar toalhas e roupa de cama. A partir da viscose, é possível produzir 
uma fibra com alto potencial de oferecer alternativa sustentável e de qualidade para a indústria têxtil, até mesmo como 
alternativa ao poliéster Os benefícios do crescimento desse segmento da indústria de base florestal toca também na esfera social. Aportes 
vultuosos e geração de empregos são aspectos que marcaram a construção das plantas fabris de Bracell, em São 
Paulo, e da LD Celulose, em Minas Gerais, as quais tive o 
prazer de visitar, recentemente.
Em Lençóis Paulista-SP, a Bracell levantou uma planta 
híbrida, chamada projeto Star, capaz de produzir celulose 
kraft e celulose solúvel. Ali foram mais de R$ 8 bilhões 
investidos em uma unidade, cujo sinônimo é a sustentabilidade. Cada detalhe foi pensado e desenvolvido visando a respeitar o meio ambiente. Assim, foram cerca de 
11 mil trabalhadores temporários no pico das obras e outros 
6,5 mil postos de trabalho fixos, diretos e indiretos.
A LD Celulose, por sua vez, instalou-se no Triângulo 
Mineiro. Fruto de joint venture entre a Dexco e a austríaca 
Lenzing, o negócio nasceu destinado ao sucesso, uma vez 
que a companhia da Áustria já comprou toda a produção 
até o fim de 2025. Lá, toda a celulose solúvel será destinada 
para dar origem a tecidos.
Na  visita, também chamou a atenção o cuidado ambiental do projeto, que recebeu investimentos na ordem 
de US$ 1,3 bilhão e gerou 9,6 mil empregos no auge da 
construção e, atualmente, conta com 1,5 mil colaboradores, diretos e indiretos.
O investimento em ciência e tecnologia, apesar de não 
significar, sozinho, a solução de nossos maiores problemas, é elemento essencial na caminhada para o futuro e na 
construção dessas soluções. Suas benesses, como podemos 
perceber, quando bem planejado, vão além dos aspectos 
ambientais e podem significar estímulo ao desenvolvimento de regiões anteriormente sem dinamismo econômico e 
afastadas de grandes centros.
Exemplos de inovação com alto potencial disruptivo de 
novos mercados sustentáveis – como a celulose solúvel – 
são ótimos exemplos de que é possível moldar o futuro em 
direção a uma economia saudável, produtiva e em harmonia com o meio ambiente. Olhar para a bioeconomia como 
caminho para o futuro sustentável que almejamos significa  multiplicar  tais frutos, os quais resultam  de anos de 
comprometimento com a sustentabilidade e a inovação, ao 
mesmo tempo valorizando-os como novos alicerces de uma 
economia mais sustentável.

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