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Identificação da causa da toxicidade de efluentes

Artigos Técnicos | Fábricas de celulose e papel da América Latina | 01.03.2009




Autora: Ph.D. Tatiana Heid Furley

Resumo:
Hoje em dia, em quase todo o mundo, a avaliação da qualidade de efluentes não se restringe apenas às análises físico-químicas, mas também inclui avaliações ecotoxicológicas. No Brasil, desde 2005, esse tipo de avaliação foi incorporado na Resolução CONAMA (Federal). Assim, vários estudos de toxicidade têm sido realizados em efluentes industriais, e valores máximos permissíveis de toxicidade têm sido estipulados para cada fábrica a partir dos órgãos ambientais estaduais. As fábricas de celulose e papel são conhecidas por apresentarem efluentes tóxicos, mesmo após tratamento primário, secundário e até terciário, em alguns casos. Para se reduzir a toxicidade desses efluentes, muito tempo pode ser gasto, uma vez que podem conter mais de dois mil compostos químicos. O TIE (Toxicity Identification Evaluation) é uma ferramenta muito útil na identificação da causa da toxicidade de efluentes. O presente trabalho apresenta os resultados da aplicação do TIE a dez diferentes efluentes de fábricas de celulose e papel da América Latina, bem como as alternativas de remediação que estão utilizando.

Introdução:
Os efluentes de fábricas de celulose e papel são conhecidos por conterem muitos compostos (até mais de dois mil), e com isso apresentam alto potencial de toxicidade aos seres vivos aquáticos, mesmo após tratamento. De acordo com Orr et al., (1996) a toxicidade dos efluentes tratados de fábricas de celulose e papel pode ocorrer em três diferentes situações, quando há:

1 – Presence of compounds in the effluent that are not entirely removed at the BTP (Biological Treatment Plant);
2 – Reduced efficiency of the biological treatment, allowing for the migration of the toxic compounds that should have been completely removed;
3 – Generation of toxic compounds at the BTP itself, such as H2S and ammonia.

A melhor maneira de prevenir circunstâncias que podem resultar em efluente final tóxico é, segundo Orr et al. (1996), otimizar o sistema de tratamento de efluentes, avaliar a biodegradabilidade e toxicidade de produtos químicos usados na fábrica, ter um controle efetivo dos derrames, e fazer um trabalho de conscientização ambiental dos operadores do processo produtivo.

Para os casos em que os efluentes já se apresentam tóxicos, e quando a fábrica deseja ou é obrigada a reduzir a toxicidade do seu efluente, isso se torna uma tarefa difícil, uma vez que infinitas podem ser as causas da toxicidade. Com isso, muito tempo se passa até que se encontre a fonte do problema e se resolva. Esse tipo de problema não se limita ao setor de celulose e papel, mas também a vários outros segmentos industriais.

Nos anos 80 surgiu a técnica do TIE (Toxicity Identification Evaluation), que permite a identificação do composto ou grupo de compostos dentro do efluente ou na água do corpo receptor (Rumbold & Snedaker, 1999; Carr et al., 2001; Burgess et al., 2000; Anderson et al., 2003; Elias-Samlalsingh & Agard, 2004; Elphick et al, 2005) causadores da toxicidade (Nipper, 2000), permitindo, assim, tomadas de ações rápidas e direcionadas para sua redução. O TIE é um processo através do qual agentes tóxicos presentes numa amostra são caracterizados e identificados (Pelletier et al., 2001). O TIE consiste de uma série de passos, onde uma amostra é fracionada e a toxicidade é isolada por tipos de contaminantes, como, por exemplo, metais (Burgess, 2000), oxidantes, orgânicos, etc.

A aplicação da TIE também no efluente industrial antes de ser tratado, pode indicar qual parte do processo de produção é responsável pela toxicidade do efluente, e, consequentemente, um manejo neste processo pode reduzir a toxicidade do efluente bruto para os microorganismos da ETB, elevando a qualidade do tratamento do efluente na ETB e, com isso, reduzindo a toxicidade no corpo receptor. Ainda, segundo Badaró-Pedroso & Rachid (2002), a identificação do composto responsável pela toxicidade da mistura é de grande valor, pois possibilita a escolha de uma ou mais tecnologias de tratamento de efluentes, com base nas informações sobre o composto responsável pela toxicidade.

O TIE vem sendo utilizado pelas indústrias dos EUA, Japão e Canadá - inclusive do segmento de celulose e papel - em função de exigências dos órgãos ambientais ou simplesmente já prevendo futuras tendências.

Poucos estudos de TIE com efluentes de fábricas de papel e celulose foram publicados. Parte desses estudos referidos a fábricas de celulose e papel foi feita pelo NCASI (National Council for Air and Stream Improvement), centro de estudos especializado em emissões dos EUA, (Cook et al., 1998 e Cook et al., 2003). Podem ser também citados os trabalhos de Cherr e seus co-autores (1987), que usaram TIE para investigar a causa da toxicidade do efluente de uma fábrica de celulose kraft branqueada, enquanto Fein et al. (1994) o usaram para investigar a causa da toxicidade de duas plantas de papel. Belknap et al. (2006) identificaram compostos causadores de disfunções hormonais em peixes expostos a efluente de fábricas de celulose, e Onikura et al. (2008) detectaram compostos causadores de toxicidade em efluente de uma fábrica de papel e celulose do Japão, entre outros trabalhos.

Na América Latina, até pouco tempo a determinação federal da qualidade de um efluente se baseava apenas em suas características físico-químicas. No Brasil, a partir de 2005, a resolução CONAMA 357/05, que dispõe sobre condições e padrões federais para lançamento de efluentes, passou a exigir que o efluente não cause ou apresente potencial para provocar efeitos tóxicos no corpo receptor. Desde então, a busca pela redução na toxicidade de efluentes tem aumentado, mas apenas um trabalho sobre TIE de efluentes de fábricas de celulose e papel foi publicado até o momento (Furley et al., 2006).

O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados da experiência da Aplysia na identificação da causa da toxicidade de efluentes de fábricas de celulose e papel da América Latina.

Referências

Tatiana Heid Furley
Identificação da causa da toxicidade de efluentes de fábricas de celulose e papel da América Latina
Toxicity cause identification of Latin American pulp and paper mill effluents
O PAPEL vol. 70, num. 03, pp. 34-42 MAR 2009
Aplysia Technology for the Environment, Vitória, Brazil E-mail: tatiana@aplysia.com.br


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