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Crédito bancário para papel e celulose

Entrevistas | Entrevista | 01.03.2009




Seja na crise, seja fora dela, uma demanda constante de todo setor industrial é o acesso ao crédito. Em tempos de turbulência, ele ajuda as empresas a manterem o capital de giro em dia e a contarem com liquidez suficiente para passar por períodos de menores vendas e receita. Quando a economia vai bem, é justamente o crédito que possibilita grandes investimentos em equipamentos, tecnologia e construção de fábricas.

Nesta entrevista, Ademiro Vian, assessor técnico sênior da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), elucida algumas questões sobre esse tema tão importante para o setor de papel e celulose, além de dar um panorama sobre a atual oferta de dinheiro pelos bancos. “A última pesquisa Febraban de Projeções e Expectativas de Mercado indica que a maioria dos bancos prevê aumento da oferta de crédito para pessoas jurídicas de 19% em 2009 e de 22% em 2010”, comenta.

O Papel – Diante da crise global, um dos assuntos mais discutidos entre as indústrias é a necessidade de crédito para garantir o fluxo de caixa. Como o senhor analisa a oferta de crédito do final do ano para agora e quais as perspectivas de curto prazo para esta situação?
Ademiro Vian – O que ocorreu, no início da crise, foi uma redução da oferta de crédito internacional. Como consequência dessa redução, as grandes companhias brasileiras, que antes podiam recorrer às linhas de crédito no exterior, tiveram de buscar recursos nos bancos brasileiros, o que, por sua vez, diminuiu o espaço para pequenas e médias empresas. Temos notado, no início deste ano, que aos poucos a situação vai se normalizando. Como mencionou nosso presidente, Fabio Barbosa, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, as empresas que antes pegavam dinheiro no mercado internacional agora estão pegando aqui dentro.

O Papel – Como o setor bancário, atualmente, está engajado na liberação de crédito para a indústria?
Vian – A liberação de crédito depende de uma série de fatores, como o tamanho da demanda, os riscos envolvidos nas operações e as perspectivas de crescimento das economias brasileira e internacional, que interferirão nos resultados das empresas. A última pesquisa Febraban de Projeções e Expectativas de Mercado indica que a maioria dos bancos prevê aumento da oferta de crédito para pessoas jurídicas de 19% em 2009 e de 22% em 2010.

O Papel – Como está o fluxo de demanda por crédito neste momento?
Vian – A demanda encontra-se normal, com exceção das linhas de crédito para exportação.

O Papel – Em relação ao custo de obtenção de crédito, muitas empresas alegam que as linhas governamentais estão caras e chegando aos patamares do setor privado. O setor bancário privado no Brasil tem buscado maneiras de ser mais acessível, com taxas menores?
Vian – A redução dos juros, tanto para os bancos públicos como para os privados, representa uma série de desafios, como diminuição da cunha fiscal e dos compulsórios, que estão entre os mais elevados do mundo.

O Papel – Quais são os custos envolvidos, para o banco, na geração de crédito para a indústria? De que forma as taxas são compostas?
Vian – Um estudo apresentado pela Febraban em janeiro mostra que o spread bancário é composto por custos administrativos, impostos diretos e indiretos, compulsório, inadimplência e resíduo líquido.

O Papel – De que forma, na opinião da Febraban, os bancos podem contribuir para manter a produção da indústria nacional?
Vian – Como declarou nosso presidente, Fabio Barbosa, não existem interesses antagônicos entre o que o sistema financeiro e o que o comércio e a indústria buscam; nossos interesses são convergentes. Agora, é preciso que haja luz nesse debate. A queda dos juros, importante para estimular o aumento da produção industrial, depende de ações, por exemplo, para reduzir a cunha fiscal e os compulsórios, bem como estabelecer um cadastro eficiente positivo. Essa seria a contribuição.

O Papel – O setor de papel e celulose é de capital intensivo, e muitas vezes os investimentos têm longo prazo de maturação. Existem linhas especiais para esse tipo de setor ou há a necessidade de adequar-se às regras em geral existentes no mercado?
Vian – O setor de capital intensivo e os que têm investimentos de longo prazo podem e devem utilizar as linhas de financiamento dos bancos. Não existem linhas especiais, porém elas se enquadram em regras de linhas gerais do BNDES para investimento. No entanto, existem instrumentos de financiamento de custos mais baixos para esse tipo de projeto, como lançamento de ações, debêntures e outros papéis de longo prazo.

O Papel – Os juros também são um fator limitante para um maior acesso ao crédito no Brasil. Como os bancos articulam essa questão e quais as previsões que a Federação faz da taxa para este ano?
Vian – Segundo a última pesquisa Febraban de Projeções e Expectativas de Mercado, a estimativa dos bancos é de que a Selic encerre 2009 a 10,75% ao ano e chegue ao final de 2010 a 10%. A definição da Selic cabe ao Banco Central, que toma suas decisões com base nas expectativas de inflação.