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Papel brasileiro em busca de escala global

Reportagem Especial | Reportagem de Capa | 01.04.2009




Com clima e solo propícios para a atividade florestal, tecnologia de ponta e mão de obra especializada, o Brasil conquistou a liderança mundial na produção de celulose de eucalipto, tendo produzido mais de 10 milhões de toneladas em 2008. Na outra ponta da cadeia, no entanto, uma pergunta sempre aquece os debates do setor: o que falta para o papel produzido aqui ser tão competitivo quanto a celulose? Existem várias respostas para essa questão, dependendo sobretudo do segmento de produto que está sendo analisado.

De acordo com Carlos Farinha, diretor da Pöyry, as vantagens do Brasil no setor de celulose e papel estão justamente naquelas áreas em que a fibra virgem é mais utilizada. “Nosso carro-chefe é a celulose de eucalipto e temos ainda a produção de pínus integrada às fábricas de papel. Por isso os papéis mais ligados a esses núcleos são extremamente competitivos, pois a vantagem começa na base florestal”, afirma. Ele explica que todo produto que potencializa a utilização da fibra da madeira torna o papel brasileiro atraente; “já o papel, que exige mais de outros insumos, como energia ou químicos, geralmente faz parte de um segmento de produto no qual o Brasil é menos competitivo”.

De acordo com dados da RISI de 2007, o Brasil é o 12º produtor mundial de papel. No ano passado, os fabricantes instalados no Brasil colocaram no mercado 9,1 milhões de toneladas, volume bem abaixo do de 83,5 milhões de toneladas produzidas nos Estados Unidos em 2007, por exemplo. O mercado externo também se configura de forma diferente para a celulose e o papel. Segundo dados da Bracelpa de 2008, 55% da produção de celulose brasileira foi exportada, principalmente para a Europa, que fica com 52% do total. No caso do papel, apenas 21% seguem para fora do País, sendo 61% para a América Latina.

Para se ter ideia do perfil de destino de cada produto, vale mencionar que a América Latina consome apenas 1% da celulose exportada do Brasil, enquanto o mercado chinês, muito mais distante, fica com 18% da matéria prima. “Se considerarmos a teoria, no caso da celulose a fábrica precisa estar próxima da floresta para ser competitiva e haver boa logística de exportação, enquanto o papel precisa estar perto do consumidor”, explica Carlos Aníbal, diretor executivo da Unidade de Negócio Papel da Suzano.

É justamente por apresentar consumo ainda baixo que a indústria de papel no Brasil ainda não investe em novas fábricas. Enquanto a média mundial anual de consumo de papel é de 61,8 quilos por habitante, aqui o consumo está em 45, segundo dados de 2008 da RISI. “Em mercados maduros, como o da Alemanha, o consumo anual de papel chega a 368 quilos por habitante”, resume Máximo Pacheco, presidente da International Paper Brasil.

Mesmo assim, o executivo que comanda a mais nova fábrica de papel para imprimir e escrever do Brasil – em fase de testes, em Três Lagoas (MS) –, acredita que a região tem muito potencial no setor. “Estamos de olho na América Latina, tanto que esta máquina, capaz de produzir 200 mil toneladas de papel por ano, é a primeira do grupo fora dos Estados Unidos”, conta.

Conforme Glauco Affonso, vice-presidente de Operações da Stora Enso na América Latina, a configuração do mercado mundial de papel já mudou, e hoje 38% da capacidade mundial de produção de papéis já está na Ásia, que há apenas algumas décadas não era uma região tradicional do setor. “A saturação dos mercados mais tradicionais, como a Europa e a América do Norte, poderá ser compensada pelo crescimento de novas regiões, como aqui e o mercado asiático”, aponta. A América Latina, no entanto, ainda está atrasada nesse processo, produzindo apenas 4,8% do papel no mundo.

De acordo com Pacheco, diversos fatores deverão levar ao aumento de consumo de papel no Brasil, como melhoria de renda, mais acesso ao computador e impressoras, além do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). “O Brasil atingiu a marca de 12 milhões de computadores em 2008; as pessoas estão imprimindo muito mais informações. Além disso, o governo já estuda a inclusão de cadernos no PNLD, o que pode aumentar a demanda anual de papel entre 50 mil e 60 mil toneladas”, diz.

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